quinta-feira, 24 de março de 2011

A novidade que já fez história

Em um momento em que ainda vemos jogadores sofrendo com o preconceito, o Vasco, primeiro dos grandes times brasileiros a aceitar, em suas equipes, negros, mulatos e pobres, marcou mais um golaço de placa!
O time de São Januário lançou nessa quinta, dia 24 de março, sua nova terceira camisa, em homenagem a história que o clube teve na luta contra o racismo. Mais do que isso, antes do lançamento do novo uniforme, inspirado nos Camisas Negras, a diretoria promovou um simpósio, com especialistas e a participação da imprensa, para debater o racismo no futebol.
Mesmo com tantos títulos expressivos, a luta contra a segregação racial é
uma das maiores conquistas e um dos maiores orgulhos da torcida cruzmaltina. Esse orgulho, aliás, é tão forte que, em dezembro de 2009, a torcida vetou a contratação de Antônio Carlos Zago, que era cotado para assumir o cargo de treinador do time de São Januário. Torcedores protestaram na internet e em São Januário com faixas dizendo que no Vasco "racistas não têm vez" e, online, com fotos de Antônio Carlos e a inscrição "RACISTA". O protesto fez referência ao episódio em que, ainda jogador do Juventude, Antônio Carlos esfregou as mãos nos braços e disse "porque ele é preto", após ter sido expulso por agreção a Jeovânio, atleta negro que defendia o Grêmio.
Essa semana, o lateral-esquerdo Roberto Carlos, que atualmente
defende a equipe russa do Anzhi, foi mais uma vítima da intolerância racial, quando um torcedor do Zenit ofereceu uma banana ao brasileiro.
Tomara que o exemplo vascaíno seja seguido com mais frequência.
Para ajudar na reflexão, segue a histórica carta que o Vasco enviou a AMEA, informando que se recusava a eliminar 12 atletas, condição imposta pela entidade e seus clubes fundadores, para que o Gigante da Colina pudesse disputar o campeonato estadual:

"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261

Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle


M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos


As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções. Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.

Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado


(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente"

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